quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Seu Manezinho tentou assistir a uma sessão do Senado

Seu Manezinho tentou assistir a uma sessão do Senado, em Brasília. Foi barrado, na porta, porque não estava devidamente vestido. Olhei para o traje de seu Manezinho, que queria conhecer a dependência mais importante da casa: Uma calça comprida, sapatos vulcabrás bem polidos (um descascadinho aqui, outro ali... bobagem), meias, uma camisa social um pouquinho puída, muito bem-passada, branca, com todos os botões. Manezinho não tinha gravata, nem sabia que era obrigatório usar paletó, naquele respeitável recinto. Aliás, nunca usou paletó, nem quando casou, precisamente com aquela mesma roupa, de graça, quando por perto de seu pequeno sítio passou uma caravana da Justiça, e lhes disseram que oficializar a união com Zulmirinha não lhe custaria nada.

No lugar onde Manezinho não pôde entrar, por sua absoluta pobreza, discutia-se assuntos que lhe diziam respeito imediato. Manezinho, sem saber, pagava aquele pessoal todo quando comprava um quilo de feijão (quando dava), um tanto de café ou quando tinha de despender o que não lhe sobrava para pagar impostos territoriais ou coisa que o valha.

Interessante como se exige tanto do povo, e ao povo é dado tão pouco. Chamar seu Manezinho de Manoel dos Santos (afinal, o pai não o reconheceu e sumiu no mundo, quando Mané nasceu) não se reveste de nenhum sinal de respeito. Respeito é abrir ao povo os espaços que o povo tem, de direito. Respeito é dar a quem pede o que de direito.

Mas Manezinho não tem o acesso a um dos maiores direitos: informação. Não teve o acesso a outro direito fundamental: educação. Foi-lhe negado o direito à subsistência digna... não admira que Manezinho, assim conhecido pelo carinho dos que o prezam, desde a mal-nutrida infância, do que pelos seus parcos um metro e cinqüenta, ou do pouco que aufere de sua enxada e feijão que colhe.

Não admira que, a Manezinho, que tanto se perfumou para conhecer aquele imponente palácio, seja também negado o acesso, por ser extremamente pobre (e conseqüentemente não poder comprar um terno de 100 reais, nem conhece, entre os seus pares, quem possua um paletó velho com um pedaço pano que sirva de gravata), às dependências do salão de reuniões onde se deveria estar votando o destino de todos nós... Manezinho incluído, nisso tudo.

Nesse ínterim, gente que enverga os melhores trajes italianos, mas traz, em suas almas, e às vezes de forma desnudada, tudo que de pior existe, transita serelepe pelos corredores do Congresso. Deviam barrar a entrada dos espíritos imundos e não a simplicidade dos Manés. Não a ingenuidade dos Manés... Mas parece que Manés, todos somos, pelo tanto que nos é negado.

Parafraseando Jesus, bem-aventurados os lírios do campo. Não confabulam; não fazem leis... Entretanto, nem Salomão, nem Senador, Presidente ou Ministro se vestiu, na sua essência, como um deles... Manezinho é lírio do campo. Deviam aprender com ele. Com sua generosidade. Com sua hospitalidade. Com sua honestidade. Passaportes para o paraíso... mas insuficientes para garantir uma visita ao Senado. Lá... paletós e gravatas valem mais.

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