O mito da mãe virgem
ou
Ofenderam minha mãe
Quanto mais eu leio sobre religião, mais estarrecido eu fico. Há
evidentes mitos por todas as partes, alguns ganhando ares tão absurdos, que
chegam a ser ofensivos.
Exemplo: o mito da mãe sexualmente intocada. Segundo ele, Jesus (e
outros, antes dele) nasceu de uma mulher pura, ou seja, virgem. Ora, para que
alguém nasça, é necessário que sua mãe não seja mais virgem. Se bem que,
hoje, isso já não é tão necessário assim, com a inseminação artificial e mais
coisas que virão por aí. Inclusive, se o neném sair por via de uma cesárea,
virgem a sua mãe continuará sendo.
A mulher virgem, como sinal de que ali se encontra toda a pureza, não
tem mais lugar neste mundo. Milagres vêm sendo substituídos por curas
fantásticas, impensáveis nos tempos bíblicos. Se fossem testemunhados por
olhos antigos, os eventos proporcionados normalmente pela ciência de hoje
seriam tidos como intervenções divinas.
Pois... a ciência descortina coisas mais fantásticas ainda do que um
parto virginal. Ver o desenvolvimento de um ser vivo qualquer, com sua
multiplicação celular, interações subatômicas, trocas iônicas, construção de
tudo o que compõe o corpo, formação da consciência, no caso dos humanos (e,
quem sabe, dos golfinhos e dos macacos e de outras tantas criaturas) é de
encher os olhos de admiração. Então, depois de testemunhar tantas coisas
lindas, para que ficar, hoje, ainda boquiaberto com a história da mulher
virgem que dá a luz a um ser excepcional?
Bem... no passado, assim como no presente, quem dizia algo precisava
de um background qualquer que o autorizasse a expressar, com autoridade, sua
mensagem. Assim como hoje o mesmo ensinamento só tem valor se proferido por
um doutor em alguma coisa (sendo desprezado se expresso por alguém apenas
inteligente), o que os mestres de antanho falavam precisava de ter também
fundamento fantástico, ainda que um tanto contraditório mas... quem liga para
contradições?
Bem. Minha mãe, com as mães normais do mundo (e não apenas aquelas
virgens – a de hoje e a de ontem - inseminadas artificialmente ou por meios
espirituais) era pura, para mim. Morreu pura. Era sagrada. A melhor mãe do
mundo, como todo mundo também deve considerar sua mãe. Ninguém vai insinuar que
eu sou produto do pecado, pois isso é uma estultice. Ninguém vai dizer, para
mim, que o homem é descendente de um casal de pecadores, e que isso nos
contamina a todos, sendo, portanto, necessário o envio de um salvador para
nossas abomináveis almas.
Somos puros se formos honestos. Se fizermos o quem tem de ser
feito (às vezes atravessando um
lodaçal, para tanto) de maneira a,
preferencialmente, causar só o bem, lutando para minimizar, se for
inevitável, o mal, seremos puros do mesmo jeito.
A pureza está dentro. Não é uma vagina sem inauguração sexual que
indica honestidade de ninguém, nem ser casto é garantia de decência.
É preciso começar a respeitar a humanidade. A respeitar,
sobremaneira, as mulheres e os homens que nos proporcionaram a vida.
Por favor, não xinguem mais minha mãe, ao dizer que ela não era pura.
Não xinguem as próprias mães e as demais mães de toda a humanidade. A
racionalidade decente, agradece.
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THE MYTH OF THE
VIRGIN MOTHER OR AN OFFENSE TO MY
MOTHER
The more I read
about religion, the more astonished I am.
There are evident miths everywhere and some of them are so absurd, that may
become offensive, as well.
As an example, take
the myth of the mother who hasn’t had sex. According to it, Jesus (and some
other people, before him) was born from a sexually untouched woman. In other
words, a virgin. Well, in order to produce
some offspring, it’s necessary to “loose” virginity, although today it’s not
that absolute, with the advent of artificial insemination, not counting the
scientific advances to come. It’s true, too, that if a Caesarian takes place, the mother will stay virgin.
The virgin woman, as
signal of purity, has no place, nowadays. Miracles have been replaced by
fantastic cures, unthinkable in biblical times. If they were witnessed by
ancient eyes, the events turned possible by modern knowledge would be taken
as divine deeds.
Science unveils even
more fantastic things than a virginal lying-in. To see the development of any
living being, it’s cell multiplication, subatomic interactions, ionic
interchanges, the construction of everything that composes the body, the
shaping of conscience, regarding to humans (maybe to dolphins and monkeys and
other creatures), is something to leave the eyes full of amazement.
Therefore, after testifying so many beautiful events, why being amused about
a virgin giving birth to an exceptional person?
Well, there is an
explanation. Far in the past, as well as in modern days, teachings would bear
a value only if the master had a background to authorize him to express, with
credibility, his message (most of which were no news). The same way that a
thought is valuable only if transmitted by someone with a phd degree (being
despised if said by someone only intelligent), the ancient sages would only be heard if they had some
awesome aura, no matter if based in a confused tradition, but, then again,
who cares for contradictions?
It’s necessary to
say that my mother, as anybody’s mother (not only the virgin ones) was pure,
to me. She died pure, sacred. The best mother of the world, as anyone should
consider a mother. No one is going to insinuate that I am the product of a
sin, because this is stupidty. Nobody is going to say to me that mankind
descends of two sinners banished from a paradise, for what they did contaminated
everyone, since then, therefore being necessary the sending of a savior for
our ominous souls.
We are pure if we
are honest. If we do what has to be done (even if sometimes we have to cross
a swamp to accomplish it), in order to do only the good, fighting to minimize
the bad, if inevitable. We will be pure, the same way.
Purity is inside.
It’s not a vagina with no sexual
inauguration that indicates honesty. Chastity is no guarantee of
decency, either. It’s necessary to begin to respect humanity. To respect,
above all, the women and men who have given us our lives.
Please, do not curse
our mothers, anymore, whenever you say they were not pure. Decent rationality
will thank you.
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012
O resumo da estupidez
Em geral, o ensino no Brasil é péssimo. Mas vamos adiante.
Vamos falar daquilo que eu faço e muitos colegas vão se identificar. O curso
jurídico, no Brasil, particularmente na Bahia, é simplesmente absurdo. Um aluno
sai sem as ferramentas básicas para interpretar leis (eu sei o que estou
falando. A maioria nem consegue um lugar no mercado de trabalho). Sai sem saber
lógica, sem conhecer os mecanismos mentais para construir um raciocínio válido;
sem saber como desconstruir um sofisma (ou seja, uma mentira). Sai sem saber
escrever corretamente, dentro das técnicas forense e legislativa. Sai sem o
mínimo conhecimento de como se portar diante de um tribunal, ou seja, não tem a
mínima noção do que seja oratória. Alguém poderia sustentar que na faculdade se
deve aprender os diversos ramos do direito. Mas isso é uma falácia, pois na
escola superior jurídica acabam sendo impingidas matérias totalmente
divorciadas da realidade que se vai viver. Dá-se psicologia, mas sob o ângulo
de um profissional que não tem nada a ver com o que os futuros operadores do
Direito vão enfrentar. Em vez de se saber reconhecer o comportamento de um
mentiroso, ou perceber se a testemunha está temerosa, obriga-se o aluno a fazer
FICHAMENTO A MÃO (Ô COISA IMBECIL, a-n-a-c-r-ô-n-i-c-a) de livros e assuntos
totalmente divorciados da realidade profissional. Ao invés de se ensinar, com a
profundidade necessária, hermenêutica, fundamental, para dar ao futuro
advogado, juiz ou outro profissional, a capacidade de interpretar regras, muitas faculdades impõem, em suas grades,
teologia. Se ainda se ensinasse teologia sob um enfoque mundial, com a compreensão
da pluralidade hodierna, até concordaria... mas o que se ensina é a compreensão
de um Deus cristão, com parcialidade inadmissível nos dias de hoje (as relações com outros grupos sociais são
permeadas de normas baseadas no Alcorão, nos Vedas, nos livros e cultura
budista, na tradição judaica), ou se esbarra num marxismo desmoralizado, sem a
contrapartida que deu certo em tantos lugares. E a coisa não para aí... em
alguns casos, chega-se a ministrar matérias como se o professor estivesse numa
sala de aula de segundo grau (às vezes até do ensino fundamental), expondo
fórmulas matemáticas, por exemplo, que jamais vão ser utilizadas pelo futuro
bacharel, quando, se fosse o caso de obrigar alguém a se submeter aos números,
dever-se-ia usar o bom senso e indicar como é que se elabora um cálculo de
correção monetária; de área de um terreno e coisas palpáveis e utilizáveis pelo
jurista. Eu tive aulas bobas e rasas de inglês!! Numa faculdade de Direito! A
coisa não para aí... as exposições são colocadas de forma incompleta,
mostrando-se o que fulano ou sicrano escreveu sobre determinados assuntos, mas,
salvo honrosas exceções, sem a alma, sem que se saiba como aquilo vai ser
usado, a forma com que os tribunais encaram os problemas, como os autores
ACEITOS hoje se posicionam a respeito, sempre que possível (e quase sempre é),
trazendo casos concretos. Com toda essa bagagem de bobagem, os alunos saem das
escolas superiores sentindo-se, contraditoriamente, inferioriores, vítimas de
argumentos de autoridade, como se um ser qualquer do olimpo jurídico fosse o
dono da verdade. O raciocínio é desprezado e, temo, propositalmente. É como se
alguém lhe dissesse os ingredientes do bolo, mas não lhe mostrasse como
prepara-lo. É tal e qual entregar um
peixe, mas não ensinar a pesca-lo ou trata-lo. Esse é o meu protesto. É
simplesmente um disparate a forma como se ministra o Direito neste País. Um
desrespeito ao cidadão, como aluno, cidadão e como consumidor, com amplo
prejuízo à sociedade, algo que deveria ser alvo de um posicionamento firme do
Ministério Público, pelas funestas consequências advindas dessa política maldosa
de emburrecimento.
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