segunda-feira, 21 de abril de 2008

É proibido fotografar

Todo mundo que me conhece sabe que adoro fotografar... mas nem sempre posso fazer isso. Trabalho no Tribunal, o lugar mais sem graça no mundo para se fotografar, embora, com arte, se possa extrair muito de lugares aborrecidos. Não que o trabalho lá seja chato... muito pelo contrário. Ali há conflitos e nada mais interessante, para se adentrar no âmago do ser humano, que uma briguinha, ou brigona, sobre assuntos como: Liberdade, Patrimônio, Honra etc. Tudo com letra maiúscula, para dar bem a dimensão do que é realmente importante. No fim, o Judiciário é um processador de conflitos, para que eles não sejam tratados pessoalmente, ou seja, no tiro, na faca, no veneno.

Bem... voltando às fotos, é muito estranho que em certos locais não se possa usar de câmeras, quando sabemos que esses locais são tão públicos quanto jardins ou estradas... tudo pago com nosso dinheiro, certo? Certíssimo. Mas... não soa estranho ser necessário uma “autorização” para fotografar, quando aquilo ali é nosso? O que há de tão secreto nos corredores da justiça que não pode ser registrado? E também não é tão ridículo essa proibição, quando se sabe que TUDO pode ser retratado, gravado, documentado hoje, com os microfones e câmeras diminutos, que a tecnologia produz, todos os dias?

Talvez seja o medo de câmeras grandes (a minha nem tão grande assim, é, embora cause uma certa admiração pelos que não são muito afeitos ao mundo da fotografia). De qualquer maneira, fica aqui a minha estranheza... o que significa, então, o art. 37 da Constituição, que diz ser obrigatório, no âmbito oficial, a transparência no serviço público e a possibilidade dos cidadãos verificar como SEU DINHEIRO está sendo gasto? Olhe bem... não estou dizendo que eu deseje tirar fotos de GENTE... gente (mesmo autoridades) tem direito a uma certa privacidade e não pode, realmente, ser filmada e fotografada o tempo inteiro... só durante entrevistas (é assim que penso... todo mundo tem direito a sossego e o assédio dos papparazzi é o fim da picada).

Deve-se respeitar o direito de se por, de vez em quando, o dedo no nariz, o direito de arrotar, de soltar um pum, o direito de bocejar. Não se pode, também, incomodar pessoas com perguntas insistentes, mal-educadas e inconvenientes, expondo ao ridículo autoridades e artistas, como se faz em programas ditos “informativos”.

Mas não ser possível fotografar paredes, corredores, plantas, escadas, elevadores... por favor! Se tudo continuar assim, vamos cada vez mais ser considerados a pátria do exagero e estátuas em parques não vão mais poder ser capturadas por câmeras; vão proibir que se fotografe obras de arte (tem museu aí já fazendo isso, ao pretexto de que os flashes prejudicam as pinturas) até o dia em que o simples olhar para um busto de um general do século XIX possa ser encarado de maneira suspeita...