segunda-feira, 20 de agosto de 2012


O resumo da estupidez

Em geral, o ensino no Brasil é péssimo. Mas vamos adiante. Vamos falar daquilo que eu faço e muitos colegas vão se identificar. O curso jurídico, no Brasil, particularmente na Bahia, é simplesmente absurdo. Um aluno sai sem as ferramentas básicas para interpretar leis (eu sei o que estou falando. A maioria nem consegue um lugar no mercado de trabalho). Sai sem saber lógica, sem conhecer os mecanismos mentais para construir um raciocínio válido; sem saber como desconstruir um sofisma (ou seja, uma mentira). Sai sem saber escrever corretamente, dentro das técnicas forense e legislativa. Sai sem o mínimo conhecimento de como se portar diante de um tribunal, ou seja, não tem a mínima noção do que seja oratória. Alguém poderia sustentar que na faculdade se deve aprender os diversos ramos do direito. Mas isso é uma falácia, pois na escola superior jurídica acabam sendo impingidas matérias totalmente divorciadas da realidade que se vai viver. Dá-se psicologia, mas sob o ângulo de um profissional que não tem nada a ver com o que os futuros operadores do Direito vão enfrentar. Em vez de se saber reconhecer o comportamento de um mentiroso, ou perceber se a testemunha está temerosa, obriga-se o aluno a fazer FICHAMENTO A MÃO (Ô COISA IMBECIL, a-n-a-c-r-ô-n-i-c-a) de livros e assuntos totalmente divorciados da realidade profissional. Ao invés de se ensinar, com a profundidade necessária, hermenêutica, fundamental, para dar ao futuro advogado, juiz ou outro profissional, a capacidade de interpretar regras,  muitas faculdades impõem, em suas grades, teologia. Se ainda se ensinasse teologia sob um enfoque mundial, com a compreensão da pluralidade hodierna, até concordaria... mas o que se ensina é a compreensão de um Deus cristão, com parcialidade inadmissível nos dias de hoje  (as relações com outros grupos sociais são permeadas de normas baseadas no Alcorão, nos Vedas, nos livros e cultura budista, na tradição judaica), ou se esbarra num marxismo desmoralizado, sem a contrapartida que deu certo em tantos lugares. E a coisa não para aí... em alguns casos, chega-se a ministrar matérias como se o professor estivesse numa sala de aula de segundo grau (às vezes até do ensino fundamental), expondo fórmulas matemáticas, por exemplo, que jamais vão ser utilizadas pelo futuro bacharel, quando, se fosse o caso de obrigar alguém a se submeter aos números, dever-se-ia usar o bom senso e indicar como é que se elabora um cálculo de correção monetária; de área de um terreno e coisas palpáveis e utilizáveis pelo jurista. Eu tive aulas bobas e rasas de inglês!! Numa faculdade de Direito! A coisa não para aí... as exposições são colocadas de forma incompleta, mostrando-se o que fulano ou sicrano escreveu sobre determinados assuntos, mas, salvo honrosas exceções, sem a alma, sem que se saiba como aquilo vai ser usado, a forma com que os tribunais encaram os problemas, como os autores ACEITOS hoje se posicionam a respeito, sempre que possível (e quase sempre é), trazendo casos concretos. Com toda essa bagagem de bobagem, os alunos saem das escolas superiores sentindo-se, contraditoriamente, inferioriores, vítimas de argumentos de autoridade, como se um ser qualquer do olimpo jurídico fosse o dono da verdade. O raciocínio é desprezado e, temo, propositalmente. É como se alguém lhe dissesse os ingredientes do bolo, mas não lhe mostrasse como prepara-lo.  É tal e qual entregar um peixe, mas não ensinar a pesca-lo ou trata-lo. Esse é o meu protesto. É simplesmente um disparate a forma como se ministra o Direito neste País. Um desrespeito ao cidadão, como aluno, cidadão e como consumidor, com amplo prejuízo à sociedade, algo que deveria ser alvo de um posicionamento firme do Ministério Público, pelas funestas consequências advindas dessa política maldosa de emburrecimento.

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