O resumo da estupidez
Em geral, o ensino no Brasil é péssimo. Mas vamos adiante.
Vamos falar daquilo que eu faço e muitos colegas vão se identificar. O curso
jurídico, no Brasil, particularmente na Bahia, é simplesmente absurdo. Um aluno
sai sem as ferramentas básicas para interpretar leis (eu sei o que estou
falando. A maioria nem consegue um lugar no mercado de trabalho). Sai sem saber
lógica, sem conhecer os mecanismos mentais para construir um raciocínio válido;
sem saber como desconstruir um sofisma (ou seja, uma mentira). Sai sem saber
escrever corretamente, dentro das técnicas forense e legislativa. Sai sem o
mínimo conhecimento de como se portar diante de um tribunal, ou seja, não tem a
mínima noção do que seja oratória. Alguém poderia sustentar que na faculdade se
deve aprender os diversos ramos do direito. Mas isso é uma falácia, pois na
escola superior jurídica acabam sendo impingidas matérias totalmente
divorciadas da realidade que se vai viver. Dá-se psicologia, mas sob o ângulo
de um profissional que não tem nada a ver com o que os futuros operadores do
Direito vão enfrentar. Em vez de se saber reconhecer o comportamento de um
mentiroso, ou perceber se a testemunha está temerosa, obriga-se o aluno a fazer
FICHAMENTO A MÃO (Ô COISA IMBECIL, a-n-a-c-r-ô-n-i-c-a) de livros e assuntos
totalmente divorciados da realidade profissional. Ao invés de se ensinar, com a
profundidade necessária, hermenêutica, fundamental, para dar ao futuro
advogado, juiz ou outro profissional, a capacidade de interpretar regras, muitas faculdades impõem, em suas grades,
teologia. Se ainda se ensinasse teologia sob um enfoque mundial, com a compreensão
da pluralidade hodierna, até concordaria... mas o que se ensina é a compreensão
de um Deus cristão, com parcialidade inadmissível nos dias de hoje (as relações com outros grupos sociais são
permeadas de normas baseadas no Alcorão, nos Vedas, nos livros e cultura
budista, na tradição judaica), ou se esbarra num marxismo desmoralizado, sem a
contrapartida que deu certo em tantos lugares. E a coisa não para aí... em
alguns casos, chega-se a ministrar matérias como se o professor estivesse numa
sala de aula de segundo grau (às vezes até do ensino fundamental), expondo
fórmulas matemáticas, por exemplo, que jamais vão ser utilizadas pelo futuro
bacharel, quando, se fosse o caso de obrigar alguém a se submeter aos números,
dever-se-ia usar o bom senso e indicar como é que se elabora um cálculo de
correção monetária; de área de um terreno e coisas palpáveis e utilizáveis pelo
jurista. Eu tive aulas bobas e rasas de inglês!! Numa faculdade de Direito! A
coisa não para aí... as exposições são colocadas de forma incompleta,
mostrando-se o que fulano ou sicrano escreveu sobre determinados assuntos, mas,
salvo honrosas exceções, sem a alma, sem que se saiba como aquilo vai ser
usado, a forma com que os tribunais encaram os problemas, como os autores
ACEITOS hoje se posicionam a respeito, sempre que possível (e quase sempre é),
trazendo casos concretos. Com toda essa bagagem de bobagem, os alunos saem das
escolas superiores sentindo-se, contraditoriamente, inferioriores, vítimas de
argumentos de autoridade, como se um ser qualquer do olimpo jurídico fosse o
dono da verdade. O raciocínio é desprezado e, temo, propositalmente. É como se
alguém lhe dissesse os ingredientes do bolo, mas não lhe mostrasse como
prepara-lo. É tal e qual entregar um
peixe, mas não ensinar a pesca-lo ou trata-lo. Esse é o meu protesto. É
simplesmente um disparate a forma como se ministra o Direito neste País. Um
desrespeito ao cidadão, como aluno, cidadão e como consumidor, com amplo
prejuízo à sociedade, algo que deveria ser alvo de um posicionamento firme do
Ministério Público, pelas funestas consequências advindas dessa política maldosa
de emburrecimento.
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